ADELA FIGUEROA
(integrante de ADEGA)
Combinamos passeio polas terras da Ulhoa com o intercâmbio cultural nascido de entre as pessoas que partilharam conosco este Dia da Diversidade Cultural. Já vai para três anos que na Eira da Xoana celebramos esta data. Coincidindo com o Dia das Letras Galegas, dia mais dia menos.
Sendo -como somos- entidade ecologista, e não querendo furtar-nos à celebração da língua e da cultura, fazemos esta homenagem à diversidade. Não só biológica, mas também às diversas culturas que o ser humano tem criado sobre a Terra.
De início fomos andar trás das pegadas dos antigos habitantes da Ulhoa, começando o nosso roteiro pelo Castelo de Pambre, fortaleza que resistiu o ataque irmandinho. Infelizmente não foi tão resistente ao passar dos anos e ao mal cuidado, mas ainda mostra uma magnífica figura. Hoje está em fase de restauro e não se pode visitar. Só por fora. Contornamos o castelo polo antigo caminho real, até chegarmos ao Castro de Remonde.
ADEGA tem adquirido, dentro do recinto do castro, a zona que ocupa a croa. Nesta Terra chamam-lhe a cubela. Ou seja a parte realmente habitada do castro. Lá paramos no lugar que teria ocupado a porta ao recinto habitado e, baixo o bosque de carvalhos que agora existe, falamos dos celtas, dos castrejos e dos seus costumes. Gago, jornalista especializado em arqueologia ilustrou-nos acerca destes pormenores.
Tínhamos também a companhia do esperto em botânica, o doutor Amigo, que manifestou a sua preocupação polo deterioro da paisagem galega, que sofre da monotonia da eucaliptização, por contraste com estas terras da Ulhoa em que ainda ficam testemunhos do nosso bosque autóctone, mália as novas plantações que começam a inçar, quer nas beiras do castro quer onde queira que levemos a vista.
Este é um grande problema ambiental na Galiza de hoje para o qual muitas vozes levantam o seu desassossego preocupadas com o devir do nosso ambiente. Sabemos que estas massas uniformes que já cobrem a maioria dos montes galegos (e não só, prados, terras férteis, etc) trazem a perda da diversidade biológica que nos ameaça assim como perda de solo fértil e destruição de muitos habitats animais. Por isso ADEGA tem levantado a campanha "Cousa de Raízes" tentando pôr em destaque esta problemática e as suas possíveis soluções.
O Roteiro acabou no moinho do castelo cuja ponte sobre o rio Pambre está recentemente restaurada. Neste dia descia bravo em cachoeiras e fervenças.
Já de volta na casa da Eira da Xoana celebramos o jantar de fraternidade partilhando os diferentes pratos que cada quem trouxo: empada galega, polvo e salsas peruanas forneceram uma mesa diversa e rica. Ainda tudo bem saboroso.
Amável foi também a sobremesa de dozes variados e de paroladas diversas. Ouvimos cantigas quéchuas, contos uruguaios, músicas argentinas, poesias brasileiras e galegas. Pepe Paz deleitou-nos com o relato das suas experiências da Índia onde mora seis meses por ano. Lá tem ele uma Casa da Galiza aberta a quem quiser ir, onde dá comida a meninos sem casta, e trabalha na Universidade Tagoreana.
Contos galegos também não faltaram da parte do Celsinho, conta-contos de Lalim, que já é um visitante assíduo da nossa casinha.
O suave sol de primavera alegrou a jornada e as folhas dos carvalhos e castinheiros do Eirado deram a sombra justa para um dia luminoso e feliz. Guardamos a nossa cultura e cultivamo-la para que nunca desapareça. Para divertir-nos e gozar com ela. Para afortalarmo-nos como povo na certeza do nosso futuro que garantimos através dos contos, as lendas os cantos e o convívio. Conhecemos o nosso rico passado e desfrutamos deste presente entre amigas, colegas e gente vinda doutros lados. Toda a Terra é da gente e dos seres vivos que nela habitam.
Desde a Eira da Xoana enviamos o nosso convite a comunhão com a Terra e com as diferentes culturas que nela se criaram. E com todos os seres vivos que nela fazem a sua casa.